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terça-feira, abril 29, 2014

Compra-los em uma Loja, como se Fosse uma Coisa - Cachorros.


Compra-los em uma Loja, como se Fosse uma Coisa - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Não é Adquirir um Objeto, Não é Adquirir uma Coisa - Cachorros.


Não é Adquirir um Objeto, não é Adquirir uma Coisa - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

"O Cão é o Mais Fiel Amigo".


"O Cão é o Mais Fiel Amigo": Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Submete-los a Perfumes, Cosméticos e badaluques Presos ao Pelo - Cachorros.


Submete-los a Perfumes, Cosméticos e Badaluques Presos ao Pelo - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Lhes seja Possível a Cachorridade - Cachorros.


Lhes seja Possível a Cachorridade - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Reconhecer Nossos Abusos - Cachorros.


Reconhecer Nossos Abusos - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Nós Humanos lhes Devemos Muito - Cachorros.


Nós Humanos lhes Devemos Muito - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Sua Natureza Simplesmente nos Comove - Cachorros.


Sua Natureza Simplesmente nos Comove - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Os Fins Justificam os Meios - Cachorros.


Os Fins Justificam os Meios - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Se Comovam com seus Olhos Pidões - Cachorros.


Se Comovam com seus Olhos Pidões - Cachorros:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

Os Cães em suas Gaiolinhas - Cachorros.


Os Cães em suas Gaiolinhas:  Vejo feirinhas de adoção por toda a cidade. Os cães em suas gaiolinhas esperando que pessoas com alma gentil se comovam com seus olhos pidões: “me ame!”. Vejo feirinhas ousadas: passarelas, música, “festa!” e animais vestidos com fantasias para atrair as pessoas para a nobre causa da adoção, principalmente as crianças. Nesse ponto me pergunto: os fins justificam os meios?

Não questiono a utilidade e necessidade das feiras de adoção. Tais feiras são ordem do dia em um mundo em que abandonar seres vivos – humanos ou não – é algo trivial para certo número de pessoas, e não choca ao outro número que está insensibilizado por ler e ver repetidas vezes tal tipo de acontecimento. O que estou questionando é: existe algum limite ético até para as ações que visam como fim o bem estar animal?

A resposta me parece clara: sim, existe. Os animais existem por seus próprios propósitos, isto é, eles são fins e não meios. Não cabe aos não-humanos agradar aos humanos, mas, se eles o fazem, é porque sua natureza – simplesmente – nos comove. Mas a comoção está em nós, não é a intenção deles. Não é o cão com o olhar pidão que busca comover o humano, mas é o humano que se apieda do cão. Os animais não nos
devem nada: entreter-nos, fazer-nos companhia, nem sequer conviver conosco; agora, nós humanos lhes devemos muito.

Desde que o humano convive com não-humanos regularmente faz uso compulsório de suas capacidades: do burro que ajuda arar a terra ao cão que faz companhia. Na maioria das situações, forçamos esse convívio; em outras, ele parece ser razoável para ambas as partes envolvidas. O fato é: nós devemos aos animais. Nós devemos moralmente aos animais. Hoje gozamos o fruto do desenvolvimento da nossa
espécie graças à colaboração não raramente forçada das outras espécies, e já passou o tempo de reconhecer nossos abusos. Reconhecer não basta, precisamos aceitar o seguinte: os animais são como são, ajudaram-nos como espécie e como indivíduos: precisamos ser gratos.

Gratidão. O mínimo de gratidão que podemos oferecer aos animais é tratá-los com igualdade. A que se resume essa igualdade? Possibilitar ao máximo que cada espécie desfrute de sua especidade. Ao cão, que lhe seja possível a cachorridade, ao gato, sua gatidade, ao cavalo e ao burro, sua equinidade. Reconheçamos para as outras espécies o similar que lhes cabe do que a nós é conhecido como humanidade. Não precisamos de longos tratados filosóficos – como os sobre a tal humanidade – para procurar entender o que é a gatidade ou a cachorridade. Para isto, basta observar os animais fazerem aquilo que todos de sua espécie costumam fazer, e parecem gostar de fazer: a galinha que choca o ovo, o cão que fuça a terra, o gato com sua curiosidade, etc. Observar e deixar aos animais que sejam tais como são, que façam o que sempre foi de sua espécie fazer.

Vestir os animais com roupinhas de super-heróis, fazer desfiles, mimá-los com versões caninas e felinas de quitutes requisitados por nós humanos é especista. O pet-shop é especista. Há gente que chega ao cúmulo de tingir os pelos de seus pets (é assim que se refere a indústria”), submetê-los a perfumes, cosméticos e badulaques presos ao pelo. Antropomorfizar o animal é negá-lo de ser aquilo que ele é: não-humano.

É muito triste pensar que para um humano adotar um não-humano em condição precária, que necessita de cuidados individuais – pois qualquer não-humano também é um indivíduo, porque tem interesses – seja preciso forçar uma aproximação entre espécies que não existe. Ressaltar a inteligência dos cães, a personalidade dos gatos, etc. é um recurso desesperado.

Como disse Jeremy Bentham, filósofo: “Não importa se os animais são capazes de pensar, importa se são capazes de sofrer”. O que quero defender é: não se deve adotar um animal porque ele se parece com um humano em diversos pontos, e que aparentemente possui características humanas sem pecado, como quando dizem: “o cão é o mais fiel amigo”, como se no animal houvesse um depósito de moralidade ao qual devemos nos espelhar. Não há. Mesmo que façamos pelo bem, a antropomorfização do animal é especista.

Cada espécie é única e aquilo que nos aproxima como humanos de outras espécies não deve ser argumento para justificar um cuidado “especial” com elas. É justamente esse o tipo de argumento que leva as pessoas a amarem cães e gatos e continuarem a comer bacon. É pensar que algumas espécies de animais (mamíferos, principalmente) são tão parecidas conosco que devemos respeitá-las, quiçá aprender
com elas coisas do nosso passado animalesco, que a civilização nos fez esquecer, enquanto continuamos a fazer churrasco após churrasco. E quanto ao sofrimento, não há muita metafísica: todo ser com algum tipo de sistema nervoso é capaz de sofrer, não importa de quantas diferentes formas, intensidades e graus, esse sofrimento possa acontecer. Sofrer menos não justifica o sofrer, e ademais, como se pode medir a dor?

Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se vestir para festas. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos se perfumar. Não. Não é da natureza dos animais não-humanos desfilar em passarelas.

Adotar um animal só é justificável se for um ato para resgatar a ele sua condição animal, dotá-lo de sua dignidade enquanto espécie própria, com interesses específicos e com personalidade distinta. Adotar um animal é se comprometer a dotá-lo do máximo possível de sua integridade não-humana. Adotar um animal não é adquirir um objeto, não é adquirir uma coisa. Os pet-shops satisfazem muito mais a uma necessidade emocional dos tutores (que esfacelam suas intenções quando se dizem “donos” de algum ser não-humano) do que do animal. O animal precisa de comida, abrigo e proteção, e são ciosos de carinho – a carinho estou me referindo todo tipo de atenção, sentimental ou não, a esse ser -, não de chocolates caninos, perfumes para cães, e coleiras com guizos para gatos. Alguns precisam entender que animais não são coisas, não são acessórios como as top-models costumam carregar seus geneticamente modificados toy dogs em suas bolsas.

Qualquer pessoa que conceda dignidade e afeto verdadeiro aos animais terá uma opinião ruim sobre pet-shops. De forma alguma uma pessoa esclarecida sobre os aspectos éticos das relações entre humanos e não-humanos, que “ama” e respeita os animais, irá comprá-los em uma loja, como se fossem uma coisa. Tampouco irá se dirigir a uma feira de adoção pelo simples fato de talvez ser divertido levar o filho menor para ver o cachorrinho vestido de Batman. Uma pessoa ciosa dos seus deveres e dívida com as outras espécies animais do planeta dirigir-se-á à feira de adoção com a boa vontade de um libertador: uma alforria consciente e responsável a um ser historicamente oprimido e desconsiderado pelo simples fato de não ter nascido humano.

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